sábado, 10 de abril de 2010

(2010/082) Eu posso ver


1. Não é culpa sua, se você não pode. As pedras estão caindo umas sobre as outras, as parede estão rachadas, o vento frio entra pelas frestas das paredes centenárias e encrespa nossa pele. Os recursos financeiros evaporam-se, dia a dia, evadem-se por um ralo sem fim, cuja boca é faminta e cujo diâmetro comporta a Lua. A fama nos impingem é milhares de vezes arrostada em nossas faces - dupla maldade... A rivalidade, a inveja, a competição são tantas, e tão injustas, que as forças nos faltam às pernas. Lá, no alto do Sumaré, a carne da floresta e da terra rasgou-se, como chaga viva, e a montanha revela a sua nudez de desastre, sua língua de barro e terra nuas, suas vergonhas, como nós, as nossas. Quem pode ver alguma coisa lá na frente? Eu. Eu posso. Eu posso ver. Eu vejo.

2. O que temos nas mãos, no momento, é dor e sacrifício. Pede a normalidade psicológica, pede a etiqueta, pede a camaradagem, que estejamos tristes e macambúzios, pelos cantos, a chorar de dor e vergonha. Professores serão demitidos - a gente tem de ficar pelos cantos a chorar. A Casa está falida - a gente tem de ficar pelos cantos a chorar. Há quem nos queira ver derrubados - a gente tem que ficar pelos cantos a chorar. Mas não contem comigo. Não vou somar-me à fila das lamúrias. Eu, não. Eu posso ver. Eu vejo.

3. Vejo essa Casa de pé. Vejo essas paredes robustas. Vejo suas salas repletas de alunos agradecidos a Deus por, finalmente, estarem aqui - "chegamos!". Vejo professores orgulhosos, briosos, de terem na Carteira de Trabalho a assinatura do RH da Colina. Vejo funcionários felizes e satisfeitos. Vejo a Colina formando profissionais de teologia. Vejo a Colina como referência na reflexão teológica de vanguarda, eixo de transição entre a Tradição e o Futuro. Vejo olhos abismados a nos fitarem, a perguntarem se não éramos nós, há dois dias e meio, afundando no Abismo, e como podemos, agora, tão já, estar escalando o Everest... Mas eu vejo.

4. Eu vejo, porque nós estaremos onde conseguirmos nos enxergar. E eu não nos enxergo aqui, onde estamos. Esse não é nosso lugar. Nosso lugar é outro. Nosso lugar é nas alturas, não cá embaixo, na lama. Pois eu posso ver e posso fazer toda a força possível para sair daqui. E sairei. Se você não pode ver, não se culpe. Apenas, faça força. Apenas, confie. Apenas, acredite. Nós vamos sair desse atoleiro. E vai ser já. E vai ser antes do que você imagina. Mas não será, contudo, sem a sua ajuda. Por favor - estenda a mão, segure a corda, e ajude a puxar. Força!


OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenação Geral Acadêmica

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