1. Vivo no meio de pessoas que se comportam de forma extrovertidamente mística. Sabem de tudo quanto é da vontade de Deus. Freqüentam os salões do Altíssimo. Têm com ele uma intimidade que extravasa pela boca aos borbotões. Tratam-no com extrema intimidade. Da vida, sabem contar todos os precisos momentos em que Deus está, toca, age, faz, acontece. Têm os dedos calejados de apontar as incontáveis e maravilhosas ações do Altíssimo... Tudo quanto sabem e vêem está nas mãos de Deus. É Deus pra cá, Deus pra lá, Deus em todo canto, em tudo, em todos...
2. Aí, chove. Aí, as coisas acontecem de não irem bem. Aí toda aquela mística verborrágica e teatral vai aos diabos. Aí, de repente, as coisas que acontecem não são mais expressão da vontade de Deus. Aí, desespera-se. Aí, desarvora-se. Aí, treslouca-se.
3. Eu consideraria legítimo que o sujeito do parágrafo 1 agisse sempre da mesma forma. Faz sol, aleluia!, chove, aleluia! Vai bem pra mim, aleluia!, vai mal pra mim, aleluia! Mas não é assim, não. É aquela história de Deus-em-tudo só quando as coisas estão boas pra mim. Quando não estão, minha boca se crispa, meus ossos secam, a pela murcha, o fígado apodrece...
4. A saída ainda mais desesperada é, então, o outro dedo apontar o diabo. Aí é assim: se a coisa está boa pra mim, é Deus, se está ruim, é o diabo. Moral da história, Deus é tudo que é bom pra mim, Deus é meu poodle. Deus é meu serviçal. E eu sou tão importante, que o diabo gasta as horas a atrapalhar a minha vida, porque ele quer se vingar de Deus... me atrapalhando!
5. Ah, Deus! Quanta teologia estranha... Quanta imaturidade com cartaz... Das duas uma: ou se deixa que seja Deus, chova ou faça sol, ou vamos nós mesmos nos fazer de deuses, fazendo à nossa imagem e semelhança o que seja ou não a ação dele. Precavei-vos, vós, espirituais! Freud ainda não morreu... de todo...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenação Geral Acadêmica
2. Aí, chove. Aí, as coisas acontecem de não irem bem. Aí toda aquela mística verborrágica e teatral vai aos diabos. Aí, de repente, as coisas que acontecem não são mais expressão da vontade de Deus. Aí, desespera-se. Aí, desarvora-se. Aí, treslouca-se.
3. Eu consideraria legítimo que o sujeito do parágrafo 1 agisse sempre da mesma forma. Faz sol, aleluia!, chove, aleluia! Vai bem pra mim, aleluia!, vai mal pra mim, aleluia! Mas não é assim, não. É aquela história de Deus-em-tudo só quando as coisas estão boas pra mim. Quando não estão, minha boca se crispa, meus ossos secam, a pela murcha, o fígado apodrece...
4. A saída ainda mais desesperada é, então, o outro dedo apontar o diabo. Aí é assim: se a coisa está boa pra mim, é Deus, se está ruim, é o diabo. Moral da história, Deus é tudo que é bom pra mim, Deus é meu poodle. Deus é meu serviçal. E eu sou tão importante, que o diabo gasta as horas a atrapalhar a minha vida, porque ele quer se vingar de Deus... me atrapalhando!
5. Ah, Deus! Quanta teologia estranha... Quanta imaturidade com cartaz... Das duas uma: ou se deixa que seja Deus, chova ou faça sol, ou vamos nós mesmos nos fazer de deuses, fazendo à nossa imagem e semelhança o que seja ou não a ação dele. Precavei-vos, vós, espirituais! Freud ainda não morreu... de todo...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenação Geral Acadêmica
Bela reflexão. Gostei.
ResponderExcluirSó não entendi quem “quens” está falando, mas isso não é o mais relevante...
Agora, que é fato é fato.
Se me permite uma pergunta. Tudo é vontade de Deus ou existe uma gigantesca "tênue" diferença entre a vontade de Deus e a permissão de Deus?
Valeu,
Leo.