domingo, 28 de março de 2010

(2010/036) Do breve "reality show" didático


1. Em razão da série de postagens a respeito de meu trabalho nessa sexta e nesse sábado, a respeito de meu cansaço e estresse, de minha super-excitação, de minha cabeça quente, das vezes em que as contas parecem fechar, às vezes, não, recebi comentários de amigos, mesmo anôminos, recomendando descansar, ter paciência, "pegar leve". Preciso dizer umas palavras quanto a isso.

2. Primeiro: o que estou fazendo é um exercício didádito: deixar que seja flagrado em pleno processo de trabalho. As soluções de supervisão e gerenciamento não são apenas aquilo que aparecem, na ponta, quando tomadas, como se o ato gerencial e supervisional fossem mágicos, revelaçõesdo além, automáticos. São, ao contrário, as incontáveis horas debruçadas sobre o problema. A comunidade só vê e sabe o que é dito, quando a decisão já foi tomada, quando as coisas já foram decididas, e, então, a comunidade sorri ou chora. Mas, para que a decisão seja tomada, são necessários muitos passos por parte da gestão, em qualquer nível - no meu nível, no da Cooerdenação. São contas, prospecção de cenários, consulta à legislação, criatividade, ficar no quadrado, sair do quadrado, tentar caminhos ortodoxos, tentar os heterodoxos, reprospectar cenários, consultar pessoas. Acreditem, se isso não for feito, a vaca vai pro brejo. Alguém tem que fazer, e, geralmente, nunca é alguém da própria comunidade - é alguém da "hierarquia". Eu estou tentando deixar vocês "verem" o processo, e ele, o processo, custa um preço, que é o cansaço, o estresse, a super-excitação, o risco. Faz parte da profissão, faz parte do cargo. Mas acontece "fora das câmeras". Estou tentando deixá-lo ver o processo. Sem pay-per-view.

3. Segundo: esse é um momento crucial, em que podemos naufragar definitivamente ou atracar num porto seguro. Tudo é uma questão de traçar a rota certa. No âmbito de minha atuação - a Coordenação - tenho de debruçar-me sobre as cartas náuticas, identificar recifes e escolhos, ilhas, tempestades, correntes, calmarias, até aventadas super-lulas das profundezas, e tentar desviar de todas as ameaças, e singrar em segurança. Não se faz isso em dez minutos. No nosso caso, nem em 48 horas...

4. Terceiro: ninguém morre por um esforço a mais de trabalho. Sim, estou cansado, e muito, mas ainda tenho gordura para queimar. Ainda agüentaria umas duas semanas nesse ritmo, e, depois, desmontaria. Mas duas semanas é justamente o que talvez tenhamos. Talvez até menos. A rigor, temos até 31 de março. Não vou morrer por causa desse sobre-esforço. Digamos que estou numa maratona, já percorri 40 km, mas faltam pouco mais do que 2. É hora do sprint. O difícil é determinar quando é a hora do sprint - se começar cedo demais, canso antes da chegada, e perco a prova. Se esperar demais, o tempo já não é suficiente para a medalha.

5. Finalmente, mas não menos importante: o que me inspira são três coisas - a) tudo o que me vem a mão para fazer, faço-o com todas as minhas forças, segundo aprendi na época em que ainda se tratava de "mordomia" nas igrejas batistas - "todas as minhas forças" significa "todas as minhas forças"; segundo, que o que me motiva é a minha família: Bel e os meninos, que estão aqui, acompahando meu trabalho: impossível olhar nos olhos deles, vendo TV, enquanto a casa pega fogo - tenho que trabalhar e lhes dar segurança (ontem, quando dei por mim que podia ter errado todos os cálculos desde sexta, porque não conhecia a legislação, que li toda, ontem, e desabei de desânimo, Bel me disse: ah, não se desmotiva, não, amor, adoro ver você alegre...). Se eu fosse lavrador, e uma praga estivesse a comer minha plantação, não dormiria até acabar com ela. Se fosse bombeiro, e um incêndio ameaçasse a cidade, não dormiria até vencer as chamas. Para ser a primeira monja classe 99 do Brasil, com a "char" Klarah, e Ragnarok, virei três noites, e ganhei. Posso "virar três noites" por um desafio maior; terceiro, a responsabilidade do cargo e, não tenho vergonha de dizê-lo, e a vaidade de conseguir, a auto-admiração por merecer. Disseram-me (não, não foi o Senhor Diretor, não) que, no final, o mérito será do Conselho - que seja. Não me importo: eu saberei, mais uma vez, que posso fazer, como já fiz inúmeras vezes na vida. Essa é uma das mais difíceis. A auto-estima, a sensação do trabalho feito e bem-feito, a realização pessoal, só perde em valor para aquelas duas primeiras razões. Não, eu não estaria me dedicando, se disso não adviessem benefícios para mim. Há responsabilidade, dever, mas o prêmio é valioso. E, se eu perder, perdi lutando.

6. Gostaria que tivessem em mente que a palavra que considero mais importante na Cordenação é "pedagógico". Estamos numa Faculdade - e num Seminário. Pedagogia não é o que fazemos diante da classe, com um quadro branco e pincel. Também é: mas aquilo é formalidade... Pedagogia é o que fazemos no dia a dia. Estou tentando ser pedagógico, e, no momento, estou dizendo que, às vezes, se você não vai além, se você não se esforça, se você não assume compromisso, se você não gasta tempo, as coisas não acontecem.

7. Mas claro, essa pedagogia pode ser feita com pitadas de humor. E, acreditem, tenho certeza de que, numa próxima ocasião, alguns de você se lembrarão desses dias, dessas postagens de Coordinatum, do exemplo que se estava tentando demonstrar com elas, e terão um parâmetro para decidir, por si mesmos, sua própria atitude. Isso, acaso, não é pedagógico?

8. Seja como for, obrigado pela preocupação. Obrigado por se preocuparem comigo. Obrigado por se preocuparem. Obrigado.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenaão Geral Acadêica

2 comentários:

  1. Osvaldo, diante das suas palavras só posso dizer o seguinte: Mãos à obra e bom trabalho!
    As postagens de Coordinatum são, além de tudo, fonte de motivação para mim também! Abs

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  2. "E, se eu perder, perdi lutando."

    Perde-se batalhas, mas a guerra só se perde com a bandeira branca.

    Fico abismado com seu entusiasmo.

    Estou lhe apoiando em todos seus passos, e dizem que o melhor amigo não é o que separa a briga, é o que entra de voadora.

    "Verás que um filho teu não foge a luta"

    Victor Lino Pinheiro

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