quarta-feira, 31 de março de 2010

(2010/043) Das reuniões com corpo discente


1. Caros alunos e alunas, colegas professores e professoras. Ontem, acho que reunimos quase 3/4 de todo corpo discente, em três reuniões difíceis, mas muito boas, com maturidade e sangue-frio, conquanto fossem momentos delicados e temperados a rasgos de dor. Sofremos por antecipação, e já há sofrimento entre nós. Sofrer é humano. Humano demais, às vezes. Para alguns, beira as raias do patológico. Não vou aconselhar ninguém a que se acalme, mas é um bom conselho. Quem sabe orar, quem sabe respirar, quem sabe yoga... alguma coisa é necessário se fazer, quando estamos muito nervosos, ansiosos, angustiados, sofrendo. Cada qual tem seu jeito de reunir-se consigo mesmo, de encontrar-se consigo mesmo, de pôr-se em paz. É imperioso que o façamos nesses dias... Se, de fato, queremos dias pacíficos...

2. As reuniões tiveram por objetivo: a) dar conta ao corpo discente da catalepsia tumular da Colina: estamos sepultados, conquanto não estejamos mortos - enterrados vivos, catalépticos. Depois de alguns anos nessa catalepsia, depois de termos sido literalmente entrerrados, despertamos. Agora, assim despertos, ou rasgamos a terra, e saímos daqui, ou aproveitamos que estamos aqui, enterrados, e morremos de vez. Eu vou rasgar a terra e sair. B) oferecer aos corpo de estudantes a oportunidade de colaborar com a hierarquização de critérios para a desligação de docentes, a fim de a Coordenação poder tomar as decisões - que são suas - sem subjetividade, sem incorrer na tentação de demitir professores com o peso de sua relação pessoal de amizade com esse ou aquele docente. Os critérios não são camisas-de-força: são orientais preferenciais. Mas cabe à Coordenação, ressalvadas determinações superiores, a decisão final.

3. Giramos no vermelho em valores em torno de R$ 107.000,00. Isso é praticamente a metade, mais ou menos, de todas as nossas receitas. Isso significa que, se não cortarmos HOJE esse custo, a partir do mês que vem, impedidos que estamos de obter empréstimos na rede bancária, já nos encontraremos sem condições de pagar salários para 2/3 dos empregados, o que se repetirá até agosto, quando, então, nesse ritomo, teremos três meses de pagamento em atraso.

4. Sem entrar no mérito de se essas metas são compreensíveis, ou não, o fato é que estamos numa cova de leões famintos, e, para sairmos dela, teremos de deixar os leões comerem um pedaço do corpo. A metáfora é pesada, mas é adequada. O corpo docente da casa terá de ser cortado até o limite de equilíbro - na prática, até chegar a R$ 107.000,00. Dito o que, chegamos ao ponto das reuniões de ontem.

5. Pedi aos alunos que me ajudassem a estabelecer critérios, a partir dos quais a Coordenação selecionaria os professores que permaneceriam, desligando os demais, de modo o mais humano possível. O resultado foram três critérios que, por turno, obtiveram a seguinte classificação:

MANHÃ
Primeiro critério: TITULAÇÃO (42 votos) NECESSIDADE (11 votos) e EMPATIA (2 votos)
Segundo critério: NECESSIDADE (41 votos) e EMPATIA (12 votos)

TARDE:
Primeiro critério: EMPATIA (33) TITULAÇÃO (6) e NECESSIDADE (4)
Segundo critério TITULAÇÃO (48) e NECESSIDADE (5)

NOITE:
Primeiro critério: TITULAÇÃO (35), NECESSIDADE (26) e EMPATIA (4
Segundo critério:NECESSIDADE (43) e EMPATIA (4)

TODOS OS TURNOS
Primeiro critério: TITULAÇÃO (83), NECESSIDADE (41) e EMPATIA (39)
Segundo critério: NECESSIDADE (89), TITULAÇÃO (48) e EMPATIA (16)

6. Uma vez que não se trata de camisa de força, mas de parâmetros para embasamento das decisões da Coordenação, esta reserva-se a responsabilidade de sopesar os critérios caso a caso.

7. Se e quando a Direção determinar o início do processo, a Faculdade interromperá as aulas por um prazo mínimo de uma semana - com funcionamento do campus, nas suspensão das aulas, para que os contatos de negociação, recontratação e desligamento de professores possa transcorrer sem constrangimentos desnecessários além do normal de uma rotina tão dramática. Se necessário, estende-se o prazo. No retorno das aulas, os novos professores, já em regime de dedicação, assumem as disciplinas, acertando o compasso, caso a caso.

8. Na prática, os professores serão convidados a mudar de regime de contratação, de horista para regime de dedicação, com salário fixo (piso do sindicato para esse regime), negociadas, em Acordo Coletivo de Trabalho, as condições das horas-aulas em classe. Os professores que não puderem ter os contratos convertidos, por qualquer razão, com exceção dos casos especiais, serão lamentavelmente desligados.

9. Os cortes serão necessariamente grandes. Se, de uma folha de R$ 159.000,00, um total de R$ 107.000,00 têm de ser cortados, a margem de excepcionalidade é mínima, quase nula. No mínimo R$ 70.000,00 devem ser cortados, o que, somados aos respectivos encargos sociais, totalizariam algo em torno dos R$ 107.000,00.

10. Os professores assim desligados poderão retornar tão logo a Casda encontre mais do que o momentâneo equilíbrio financeiro, mas o definitivo equilíbrio. Nesse momento, contudo, o rigor é tão grande, a necessidade, tão imperiosa, que não se vê outra saída - nos limites das condições impostas à Casa pelo Conselho.

11. A todos, meu pedido de perdão. A todos, meu agradecimento pelo clima pacífico em que transcorreram as reuniões. Maior que o clima de paz, só a sensação de dor.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenação Geral Acadêmica

6 comentários:

  1. Ana Claudia - Pedagogia Tarde31 de março de 2010 às 18:27

    Caro Osvaldo,
    Boa Noite! Fico feliz com a clareza das informações postadas no Blog. Porém, gostaria de saber se os dias em que não ocorrerão aulas, haverá abatimento no valor das mensalidades? Caso não haja, haverá algum tipo de compensação?

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  2. eu não acredito no que estou lendo. Compensação, mais que natural, mas desconto na mensalidade ...

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  3. O corpo discente decidiu os critérios, mas gostaria de externar a minha insatisfação. Sei que é importante ter no corpo docente professores com mestrado/doutorado, mas, por ironia talvez, alguns professores que não possuem tais titulações são altamente capazes e até melhores (perdoem a sinceridade) para ministrarem aulas do que outros que possuem um currículo mais "incrementado". Não sei se possuem na bagagem uma experiência insigne ou se trata de pura competência mesmo. Contudo, apesar disso ter um caráter subjetivo, acreditava que se os alunos pudessem palpitar neste sentido, esses professores poderíam ser de alguma forma preservados. Pelo visto, infelizmente não serão.

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  4. não acredito no seu espanto ...estamos na metade do semestre e não tivemos 1 semana decente de aulas, esse mes foi quase todo sem aula e o proximo ja entra com 1 semana a menos ...

    roberta pedagogia tarde

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  5. Roberta, não posso concordar com sua observação, conquanto a publique. Nem de longe, quero crer, ela descreve a realidade. É seu direito de expressá-la, mas não posso concordar com ela. Ainda que os professores estejam sob forte pressão, em todos os sentidos, e principalmetne os de Pedaogia, desde o atraso de pagamentos, até o recente risco de demissão e o fechamento do Curso, quero crer que têm honrado seus compromissos de aula. Quero crer, e disso estou informado, que as professoras de Pedagogia são extremamente queridas pelos alunos, e as aulas são elogiadas. Se a sua declaração não pretende ser considerada um ponto fora da curva, deveria ser pronnnciada em contexto próprio, em renião de turma e em expressão oficial junto à Coordenação. Fazê-lo aqui não produz qualquer benefício, nem para você, nem para seus professores, nem para a FABAT. E, qero crer, é benefício que você querer gerar, não é?

    Osvaldo Luiz Ribeiro
    Coordenaão Geral Acadêmica

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  6. Anônimo disse: "O corpo discente decidiu os critérios". Anônimo, se você estava na reunião, deve se lembrar que eu disse que os critérios eram apenas orientadores. A decisão final cabe à Coordenação. Que tipo de comentário é esse? "Pelo visto"... Pelo visto, nada. Se você não estava na reunião, tá explicado. Se estava, perdeu alguma coisa, não é?

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