quinta-feira, 15 de abril de 2010

(2010/089) "Pós-Modernidade" e Monografia(s)


1. Um vespeiro? Seja o que for, é um "fenômeno", e gostaria de tocar no assunto. Celeste pediu-me que assumisse as disciplinas de Pesquisa Científica (Monografia) de Teologia, as do turno da manhã. Isso me pôs em contato direto com Projetos de Pesquisa de Monografia, em Pesquisa Científica II. Detectei um fenômeno: são já, expressamente, três monografias que pretendem discutir algum elemento do espectro teológico (pastoral, teologia, liturgia, moral) a partir da "base pós-moderna". O que é curioso é tais projetos assumirem como "pós-moderna" a base da sociedade - implicitamente - brasileira.

2. Duas situações foram flagradas: a) ou assumia-se a sociedade "mundial"; ora, problema grave, porque, de um lado, o trabalho achava que dava conta de tratar dwe toda a sociedade planetária, e, de outro lado, assumia que a sociedade "mundial" encontrava-se na era pós-moderna. B) ou assumia-se como base a sociedade brasileira, afirmando aí estar instalada uma cultura pós-moderna.

3. Problema: não havia um capítulo em que se discutisse a "teoria" da sociedade pós-moderna. O fato estava "dado" e "assumido". Ora, a Pós-modernidade é uma "tese", controvertida, inclusive. Assumi-la, o que é tanto uma possibilidade quanto um risco, em se tratando de Monografia, exige, ao menos, severa fundamentação teórico-bibliográfica. Mas os Projetos assumiam a afirmação como "dado" determinado.

4. Além disso: assumia-se, sem discussão, a base pós-moderna da sociedade brasileira. Mas não se discutia, em nenhma sessão específica, essa questão. Já discuti-lo seria muito, muito arriscado, conquanto possível, já que os teóricos da sociedade brasileira não demonstram muita "boa vontade" diante da "tese". Registre-se que os teóricos da sociedade brasileira não são os teólogos - são os sociológicos, os antropólogos, os cientistas políticos: são as teses das Ciências Sociais que devem servir de base para a reflexão teológica - se o campo é a "cultura pós-moderna".

5. Mas o mais "grave" me pareceu uma atitude comum: nenhum dos trabalhos cuidava de avaliar, criticar, julgar, investigar, um determinado objeto de pesquisa - por exemplo, "essa" sociedade pós-moderna. Eles se propunham a apresentar "programas" de intervenção teológico-pastoral para a correção de rumo da "vida" de homens e mulheres aí vivendo. Ora, essa perspectiva não corresponde exatamente à demonstração de capacidade de pesquisa bibliográfica que deve caracterizar a Monografia: a Monografia "serve" para o formando demonstrar que é capaz deempreender pesquisa critico-científica, e não para "tribuna" ou "púlpito" de idéias, quaisquer que sejam. A atitude de apologia de programas de intervenção telógico-pastoral caracterizam um engajamento profético-pastoral eventualmente até louvável, mas que se distancia-se da atitude e da prática da pesquisa, e que se deixa marcar pela atitude mais ideológica do "pesquisador".

6. Isso me leva a refletir sobre a necessidade gritante de nós, FABAT, debruçarmo-nos sobre a área de pesquisa. Um estudante não pode chegar em Pesquisa Científica III com um perfil tão severamente desenquadrado dos pressupostos da investigação científica, porque lhe restam apenas poucos meses para o término do trabalho e, dada a situação descrita, sequer um Projeto aprovado eles têm.

7. É verdade que há projetos "magníficos". A existência deles revela que o processo de ensino-aprendizagem está "instalado", o que é bom. Contudo, o que vim de descrever revela outro dado: que ele não está conseguindo eficiência em alcançar aqueles alunos que possuem uma formação heurística menos refinada: se o aluno, a aluna, possuem uma boa capacidade de apreensão de conteúdo, a coisa acontece. Se não, não. E, uma vez que, no final das contas, são todos os nossos alunos que precisam sair do outro lado, é necessário que voltemos aos fundamentos da didática da pesquisa, e oformulemos nossos processos e cnsigamos alcançar o conjunto discente como um todo.

8. Dificílima tarefa. Mas é nossa. E daremos conta dela. Porque isso também é educação.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenador Geral Acadêmico

2 comentários:

  1. Osvaldo!
    Quando você constata que a pesquisa "não está conseguindo eficiência em alcançar aqueles alunos que possuem uma formação heurística menos refinada: se o aluno, a aluna, possuem uma boa capacidade de apreensão de conteúdo, a coisa acontece. Se não, não." Eu concordo com sua análise. Como prof. da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica tenho me deparado com o mesmo problema no curso de Pedagogia e Teologia. De fato, a reestruturação que você pretende fazer é necessária e urgente. O grande desafio é alcançar os alunos que você designa poeticamente de "alunos que possuem uma formação heurística menos refinada". Não tenho dúvida de que você trabalha e vai continuar trabalhando para mudar essa situação.
    Prof. De Bonis

    ResponderExcluir
  2. Osvaldo,
    Ninguém escreve sobre o que não sabe, pelo menos na graduação, sem ter sido introduzido nos temas, por alguém que sabe mais. Sempre senti a falta de conhecimentos mais sólidos sobre os assuntos que os alunos queriam estudar, justamente porque os professores do Seminário não costumam fazer avaliações dissertativas e corrigi-las, para que os alunos vão gradativamente aprendendo a escrever cientificamente. Nosso alunos precisam ESCREVER desde o primeiro período, sendo LIDOS pelos professores, para que estejam aptos a saber o como escrever cien´tificamente. Sem isso, inseguros, são atraídos para a cópia ou para o plágio. O que tenho visto é a grande massa de temas estar ligada oas melhores professores, àqueles que, em dando boas aulas, fortificam os interesses de pesquisar dos alunos. Os temas apologéticos e pastorais, a meu ver, refletem que o pastor ainda é mais poderoso do que os professores na segurança requerida do aluno para a prática acadêmica. Dar a forma é ensinar a entrar nos eixos. Ensinar o conteúdo, tarefa de todos os períodos do Curso, é ensinar a escolher caminhos e saber segui-los, o que, infelizmente, tem sido uma deficiência do nosso Seminário. Ensinar a formatar é fácil. Difícil é dar insumos, pois eles são de difícil elaboração individual, vêm de dentro para fora, não há como decorar, só se o professor tiver sido professor o suficiente para criar amor no coração do aluno por aquele assunto, a ponto de ele querer saber mais sobre aquilo que seu professor já sabe. Há, portanto, um canal de admiração entre ambos, que pode veicular o desejo de pesquisar.
    Mas, sobre isso, serão necessárias muitas conversas mais, pois o problema é importante , ingente e urgente. Espero ansiosa pelas reuniões do GT. Abs, Celeste.

    ResponderExcluir