sábado, 17 de abril de 2010

(2010/094) Da perda da qualidade


1. Eu só lamento mesmo uma coisa em relação aos batistas - desde há uns vinte anos, mais ou menos, fomos e viemos descompromissando-nos com a qualidade. Talvez nenhuma referência batista tenha sido mais desqualificada nos últimos anos, e nenhuma mereceria mais a nossa penitência, o nosso choro, as nossas cinzas e saco, do que a música batista.

2. Missões, aos trancos e barrancos, vamos levando. Como o Brasil batista apóia missões (a conta bancária não o desmente: apoio, sem destinação de recursos, é retórica vazia, é como aquela oração de Tiago, quando o que se tem é fome...), e como a respiração das igrejas se dá ao compasso das campanhas missionárias, vamos considerando que tudo vai bem. Talvez esteja. A rigor, não discutimos criticamente a questão. Mas, seja como for, é o que "melhor" vai caminhando no Brasil batista.

3. Teologia nunca foi nosso forte. A perda de identidade e de atualidade dos batistas é proporcional ao recrudescmento de uma cada vez menos profundidade crítica na Teologia. Talvez tenhamos sido pretensiosos, porque tínhamos uma extraordinária empresa de publicações, uma gráfica invejável, e nos achávamos "bons". Mas, para falar de Teologia pra valer, não, convenhamos, nunca nos interessamos por isso, porque, aliás, fazer Teologia pra valer é, quantas vezes, dar tiro no próprio pé, fazer muitas e muitas re-avaliações. De modo que nossa "teologia" resumiu-se, sempre, à apologia superficial de tradições não suficientemente pesquisadas. Não, Teologia nunca foi nosso forte.

4. Música... ah!, aí, sim, que drama terrível. Éramos quase lendários. Cantávamos maravilhosamente. Educávamos musicalmente nosso povo. Qualquer membro de igreja sabia sua "voz", contava a partir dela, sob a regência educativa de ministros para isso formados. Toda a congregação era um grande coro graduado, treinado, atento à didática performativa do canto público.

5. Hoje... Bem, é triste o cenário. Não serei leviano se considerar que essa tragédia é concomitante ao desaparecimento sistemático dos ministros de música, dos regentes oficiais. Não qual deles é a causa do outro - precisaríamos de historiadores sérios entre nós para levantar essa questão, comprometidos mais com a história do que com respostas sob medida. O que sei é que assassinamos fria e cruelmente o que tínhamos de melhor, nosso orgulho, e substituímos a didática musical pela emocionalidade descontrolada e a espiritualidade vazia que hoje se vislumbra em todo canto.

6. Que pena. Será que ainda há tempo para ressuscitarmo-nos da morte cultural que nos permitimos? Não sei. O que sei é que nos acomodamos à moda contemporânea de igrejas-auditórios, púlpitos-Faustão, cultos-Canecão. Eu também fiz coro, há décadas, na defesa da contextualização da liturgia. Mas não esperava que a contextualização se desse por baixo, pelo compromisso mercadológico com o que de menos elogiável há na nossa cultura, pelo descompromisso com a qualidade que ronda não apenas nossas igrejas, mas, sobretudo, a TV e as rádios, nossos modelos culturais... É, se era contextualização que queríamos, conseguimos. Mas, juro a vocês, não era isso que eu queria. Nem foi por isso que e esperei...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenação Geral Acadêmica

3 comentários:

  1. Oi, Osvaldo

    Concordo com você. Nossa qualidade musical caiu muito.

    Porém, temos de entender que nossa cultura musical mudou. O tempo dos corais e quartetos - lindos - passou. Não adianta querer que a moçada de hoje reviva esse tempos para nós. Hoje o estilo pop e MPB é que estaria em voga. Porém, isso não justifica a perda de qualidade. Mudou o estilo, a forma, mas tudo pode ser feito com a mesma maestria com que se fazia no passado. Vejamos, por exemplo, o VPC. No começo era música coral. Depois virou pop e MPB e com a mesma qualidade - eu diria que ficou muito melhor, é só ver o disco "De vento em popa".

    Então, fazer uma música congregacional de qualidade com a cultura de nosso tempo é possível. É só querer. Para isso precisaríamos de liderança musical lúcida e competente e que não se deixa levar pelo que a moda dita, mas que se orienta pela qualidade e, ao mesmo tempo, esteja antenada com o que há de melhor em nossa música brasileira e, por que não, na música internacional - isso no que diz respeito aos estilos musicais: MPB, jazz, pop, coro popular etc.

    Ainda há tempo...

    Robson Guerra

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  2. Concordo com muito do que o Robson disse.

    Não concordo com isto:
    "O tempo dos corais e quartetos - lindos - passou.

    Música boa será sempre música bem feita, que sensibilizará todos.Que tocará em todos. Esta é uma das funções da arte. O problema não é de estilo, nem de rítmos. É de competência. Quem milita diariamente na área sabe isto.

    O que é bom permanece.
    O tempo prova e julga.

    Música é música independente de regionalismo. Tem que dominar todo o "canon musical", sem perder qualidade e sem uma cópia (cover) mal feita, um arremedo...

    Os dias hoje são pobres , medíocres (todos são designers, músicos, pastores... por ouvir, consultar o google ou usar o photoshop), mas também são tempos livres, multifacetados e com muita informação e por isto muito rico e muito cheio de possibilidades e não rótulações. Ö cuidado sempre será em definir e optar pelo bom ou pelo ótimo. A convivência de muitos estilos precisa de gestores competentes e que saibam usar as ferramentas próprias para cada lugar, ambiente e comunidade, sendo sempre pontuais, não excludentes e justos.
    Culto é também justiça e música na igreja também.

    grande abraço
    westh ney

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  3. Parabéns pelos tópicos 4,5 e 6... vc foi brilhante! Me formei no STBSB em 89, e acho que naquela época o curso de música do seminário formava MINISTROS, hoje ele se limita a formar MÙSICOS... onde fica a visão de ministério, e de ter cuidado com o que acontece na igreja???... Extremamente lamentável, muito mesmo!!
    Estou orando por vcs!
    Abraço
    MM Rose Costa

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