1. Duas ou três foram as vezes, hoje, em que alguém me falou do "estado depressivo" do campus. Fala-se de uma "mornidão", de uma "dormência", como se os espíritos estivessem "pra baixo". Fala-se de "desânimo" - des-anima = falta de alma. A "alma" do campus está abatida, o tempo está nublado, o sol, escondido, a alegria, acanhada, a esperança, malograda, o amanhã, cadê...? Duas ou três vezes. E saí, para ver essa coisa acanhada e mirrada em que se diz ter-se convertido o cimo do mundo...
2. De fato, há uma sensação estranha no ar, como de um grande mamífero africano, macambúzio, a pressentir uma inenerrável tristeza, como um espírito de morto, a assombrar, como em filmes japoneses de terror. O campus está - muito - triste.
3. Eu compreendo. Mas me cabe uma palavra. Sim, eu sei que nosso ânimo depende das circunstâncias, depende da "temperatura". Como o clima atmosférico, o clima social também nos afeta, nos deprime. Eu sei. Pesa-me inclusive sobre os ombros o fato de, em certo sentido, a Coordenação estar diretamente relacionada a esse estado lúgubre da Colina, se não por sua própria culpa, certamente porque também dela adviriam os raios de sol para a iluminação dos rostos e das janelas dessa pequena parte das franjas da Floresta da Tijuca.
4. Mas, cá entre nós, vamos, mesmo, nos deixar contaminar pelas circunstâncias? Nós? Nós que nos dizemos "luz do mundo"? Não, não tomem essa palavra como uma "pregação" alienadora. Tomem-na como uma admoestação, um lembrete a que nosso sol dorme em nosso próprio peito, e que, a despeito de tudo e de todos, ele deve iluminar-se, iluminar-nos, porque é em dias de trevas, em dias sombrios, em dias de eclipse, que a nossa luz se faz mais forte e mais visível.
5. E, no entanto, justo agora, em que os dias estão turvos, como as águas barrentas, depois da chuva, justo agora, quando o céu está cinzento, quando a gris se desenham nossos dias, justo agora - vamos ficar... "apagados"? E como haveremos, amanhã, quando o sol estiver brilhando de novo, como haveremos de dizer, àqueles que se aproximarem de nós, tristes, porque seus dias estarão tristes, que é na tristeza que devemos reagir, iluminar o rosto e olhar o mundo de pé, de frente, de cabeça erguida, quem sabe com um sorriso no rosto?
6. Ah, sim, uma escola se faz com livros: mas, sobretudo, com pessoas. As pessoas de nossa escola, nós, teremos o que para apresentar às futuras levas de alunos? Livros? Tão-somente livros? Ou vamos "viver" com entusiasmo esses dias passageiros? De livros as bibliotecas estão apinhadas. De gente que resiste, que supera, que ultrapassa, que transforma, é disso que o ensino precisa. Estamos aqui. É nossa vez de sermos essa gente. É nossa hora de pormo nosso sol para brilhar. Neblina - fugi! Treva - correi! Xô, melancolia!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. De fato, há uma sensação estranha no ar, como de um grande mamífero africano, macambúzio, a pressentir uma inenerrável tristeza, como um espírito de morto, a assombrar, como em filmes japoneses de terror. O campus está - muito - triste.
3. Eu compreendo. Mas me cabe uma palavra. Sim, eu sei que nosso ânimo depende das circunstâncias, depende da "temperatura". Como o clima atmosférico, o clima social também nos afeta, nos deprime. Eu sei. Pesa-me inclusive sobre os ombros o fato de, em certo sentido, a Coordenação estar diretamente relacionada a esse estado lúgubre da Colina, se não por sua própria culpa, certamente porque também dela adviriam os raios de sol para a iluminação dos rostos e das janelas dessa pequena parte das franjas da Floresta da Tijuca.
4. Mas, cá entre nós, vamos, mesmo, nos deixar contaminar pelas circunstâncias? Nós? Nós que nos dizemos "luz do mundo"? Não, não tomem essa palavra como uma "pregação" alienadora. Tomem-na como uma admoestação, um lembrete a que nosso sol dorme em nosso próprio peito, e que, a despeito de tudo e de todos, ele deve iluminar-se, iluminar-nos, porque é em dias de trevas, em dias sombrios, em dias de eclipse, que a nossa luz se faz mais forte e mais visível.
5. E, no entanto, justo agora, em que os dias estão turvos, como as águas barrentas, depois da chuva, justo agora, quando o céu está cinzento, quando a gris se desenham nossos dias, justo agora - vamos ficar... "apagados"? E como haveremos, amanhã, quando o sol estiver brilhando de novo, como haveremos de dizer, àqueles que se aproximarem de nós, tristes, porque seus dias estarão tristes, que é na tristeza que devemos reagir, iluminar o rosto e olhar o mundo de pé, de frente, de cabeça erguida, quem sabe com um sorriso no rosto?
6. Ah, sim, uma escola se faz com livros: mas, sobretudo, com pessoas. As pessoas de nossa escola, nós, teremos o que para apresentar às futuras levas de alunos? Livros? Tão-somente livros? Ou vamos "viver" com entusiasmo esses dias passageiros? De livros as bibliotecas estão apinhadas. De gente que resiste, que supera, que ultrapassa, que transforma, é disso que o ensino precisa. Estamos aqui. É nossa vez de sermos essa gente. É nossa hora de pormo nosso sol para brilhar. Neblina - fugi! Treva - correi! Xô, melancolia!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Amém!
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