terça-feira, 18 de maio de 2010

(2010/143) Stella, na FUNARTE


1. Stella escreve de terras são-carlinas em seu blog. Está lá, tocando e se divertindo, experimentando a dádiva de fazer o que gosta. Pouca gente no mundo, desse andar de baixo em que vivemos, tem o privilégio de fazer o que gosta. Vem de Marx, o velho Karl, a idéia de que a alienação humana está ligada historicamente à alienação de seu trabalho, quando a realização humana, descolada do trabalho humano, fica impedida justamente por causa desse trabalho aviltado/descolado/alienado - quando não se pode ser, fazendo, não se pode ser, porque o fazer descola-se do ser, e o ser é engolido, destruído, vilipendiado pelo azáfava puramente biológico da sobrevivência. Mas Stella, nesses dias, diverte-se com seu pequeno quinhão de prazer e delícia. E eu me alegro com ela.

2. Ela sabe, Denise sabe, Davidson sabe, até Westh Ney sabe, Stella seria assessora da Coordenação. Não o foi, agora, porque conversamos um bocado sobre isso, e ela achou, e acabou me fazendo achar, que não era dia e lugar, hora e momento. Então, convidei Denise, que se sentiu muito contente em ser lembrada. E eu também, apesar de que Denise gosta de um celular, e eu odeio essa porquera... Mas acho que, depois de ela entender o quanto esse instrumentinho do capeta é chato, ela vai entender... Ela gosta de me ligar no meio da aula :O)

3. Li, agora, o blog de Stella, instado por seu e-mail divulgação. Vai aqui meu protesto de muitíssima estima e admiração por essa "neguinha", como ela se descreve no post de São Carlos, o que me lembrou Vanessa da Mata... Essa declaração pública em nada, absolutamente em nada, diminui a importância de Denise - em nada! Mas creio que a comunidade deve saber que Stella, que foi minha colega de Coordenação durante parte da gestão anterior, quando não éramos, ainda, MEC, tinha sido minha primeira opção. Deixou passar a gôndola dessa Veneza incerta... Denise, agora, há de cantar para nós, enquanto "rema" sob as pontes da cidade-água. Ah, e Stella tem um texto inquietante sobre águas, que vai me perseguir por alguns dias, tão forte e profundo me tocou... Se não fossem dias perigosos, se não fôssemos nós mesmos tão perigosos, se fôssemos mais livres, eu diria que Stella é meio bruxa, o que é uma das coisas mais admiráveis nas mulheres profundas. Por que eu o sei? Porque Bel é bruxa, também... E eu a amo! Quando os apócrifos judaicos, aproveitando-se do início da teologia dos demônios, um Enoque, por exemplo, inventaram de dizer que os demônios ensinaram as poções às mulheres, era porque já naquela época, também judias eram assim, profundas, misteriosas, noturnas, bruxas, eu diria, se com esse termo, demonizado, não tivéssemos inventado a tortura santa medieval... Eu queria ser bruxo assim. Mas me sobrou apenas um cisco de exegese, que, perto dos fogos de artifício da profundidade feminina, soam-me com estalinhos de São João, puf!, puf!, acabou...

4. Stella, divirta-se, e volta logo, que seus alunos reclamam um monte de suas ausências, mulher! Denise, parabéns pela nova função, seja bem-vinda, e, se posso desejar algo a você, é que se divirta tanto na nova atividade que conquistaste, quanto Stella se diverte em São Carlos. Quanto a mim, estou aqui, tentando...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

2 comentários:

  1. Por Stella Junia

    Ei querido, que delícia de texto.Obrigada por tantas referencias carinhosas.

    Já li seu cometário no blog também, no texto sobre as águas.... os seus comentários me fazem pensar muito....muito mesmo....

    Esse texto em Cordinatum que fez lembrar da alegria de fazer o que se gosta e ainda receber dinheiro por isso...rsrs é um presente!!

    Meus alunos sentem minha falta e eu , acredite, sinto imensa falta deles. E saibam, voltarei recarregada, reabastecida, depois dessa estada aqui na Universidade Federal de São Carlos, uma maravilha de academia. E os doutores com quem tenho trabalhado, que só pelo exemplo e pela prática, me sacodem no sentido de seguir...continuar... doutorar também....
    Voltarei de 'pote cheio' espalhando generosamente as maravilhas que recebi.

    Quanto á minha porção bruxa, já foi um incômodo pra mim.. Hoje aceito e entendo o privilégio...os sentidos aguçados...a percepção extra... a comunicação sobrenatural...estou aprendendo a administrar e usar para o bem. rs.

    Querido, que as águas do meu sonho, sejam da renovação : aquelas que lavam a alma...

    E que elas nos banhem , nos purifiquem, nos preparem, pois o dia da vitória já vem!

    grande bjo, amigo

    Stella Junia

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  2. pois é... e falando em quem se é, ando um pouco triste, ou melhor entristecida. Acho que há uma diferença, mas realmente não sei qual.

    Estou lutando contra a maré, só que tem horas que é preciso ficar quieta, fingindo de morta para guardar um pouco de forças.
    Sabe como? Parada, olho parado, sem pensar, esperando, esperando, esperando o trem... que não vem, que não vem, que não vem, que não vem... Ah, isto é parte de uma música da MPB.
    Na realidade estou dentro de duas músicas lindíssimas da minha juventude: Roda Viva e Pedro Pedreiro de Chico Buarque.

    Roda Viva: Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu(...) A gente vai contra a corrente até não poder resistir na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir. Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há, mas eis que chega a roda-viva e carrega a roseira pra lá.

    Pedro pedreiro:
    Pedro pedreiro quer voltar atrás
    Quer ser pedreiro pobre e nada mais
    Sem ficar esperando, esperando, esperando
    Esperando o sol
    Esperando o trem
    Esperando o aumento para o mês que vem
    Esperando um filho pra esperar também,
    Esperando a festa
    Esperando a sorte
    Esperando a morte
    Esperando o norte
    Esperando o dia de esperar ninguém
    Esperando enfim nada mais além
    Da esperança aflita, bendita, infinita
    Do apito do trem

    Pedro pedreiro pedreiro esperando
    Pedro pedreiro pedreiro esperando
    Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
    Que já vem, que já vem, que já vem (etc.)

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