sexta-feira, 28 de maio de 2010

(2010/153) Tanta coisa a fazer...


1. Conquanto o Templo de Jerusalém, dizendo-o sob maldição, tenha marcado a ferro e fogo o trabalho do camponês, coitado, desde Weber assumiu-se uma relação direta entre a ética protestante e o espírito do capitalismo moderno: o trabalho tornou-se "bênção", não maldição. Não deixou de ser uma transgressão à ideologia sacerdotal de há 2.500 anos, conquanto, evidentemente, não programática, porque também aí se respirava aquela atmosfera antiga.

2. O trabalho é, mesmo, um dos fundamentos do homem. Trabalhar dá sentido à sua vida. Não me refiro aqui a um tipo específico de trabalho - há trabalho que pouca coisa de diferente tem da escravidão, e há trabalho que não passa da apropriação, da mais-valia, do corpo do homem, tornado macaco mecânico, objeto utilizável, instrumento de riqueza de poucos sobre muitos. Falo do trabalho no sentido das atividades de manutenção da vida, a atividade que é a própria vida. Quando vida e trabalho se divorciaram, quando o homem, de um lado, trabalha, acorrentado ao desespero de manter-se vivo, e, de outro, foge-lhe a vida das próprias mãos, o trabalho, então, ironia, com efeito, converte-se em maldição... Mas não divina! Humana. O homem é o lobo do homem...

3. Trabalhar, como expressão do sentido da vida, promove o encontro do homem consigo mesmo. Recordo-me, e a vocês, de Is 4,2b: "[Naquele dia]... o fruto da terra será para (= servirá de) orgulho e honra para o resto de Israel". Trabalhar, e pôr à mesa o pão:

4. Vir para a Colina com desejo de trabalhar. E orar, para que Deus, ironia, permita o trabalho, promova o trabalho, engendre o trabalho. Não queremos sombra. Queremos o suor do rosto, até mesmo a maldição do camponês, irmão nosso - mas queremos o trabalho. A depressão ronda a porta da casa da gente, lobo traiçoeiro, a nos morder os cancanhares, hiena sarcástica, a nos morder a jugular da gente. E a depressão é essa: o trabalho nos foge às mãos, corre de nós, que o desejamos tanto. O pecado nosso, ó Deus, é, então, esse desejo? Desinteressarmo-nos dele, do trabalho, é a nossa cura? Mas como, se é dessa doença que vivemos, Pai?


OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenação Geral Acadêmica

Um comentário:

  1. Interessante a canção e o pai que espera que o filho seja gente, gente de verdade, mais gente que ele. Em meu momento egoísta, estou mais pra "caçador de mim". Mas não tem jeito, tenho que me preoculpar com a realidade, o trabalho (mas é bendito ou maldito?), pois sem ele, nem tempo pro "egoísmo" terei! Não vou poder comentar no coordinatum nem estudar na Colina... Agora ele é bendito! rs.

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