1. Saber onde está seu coração. O meu, eu sei. Você, o seu, você sabe? Pois trate de revelar para si mesmo onde está seu coração. Não seja o caso de você vir a descobri-lo já tarde demais para arrependimentos úteis. Arrependimento é útil, utilíssimo, quando você pode tratar de corrigir seu rumo. Caso contrário, é dor, é fogo, é ácido. É disso que se deve estar falando, quando se diz que não se arrepende de nada, e se vai achando que isso é uma coisa inteligente. Pois acho que não é. Arrependimento é útil e inteligente. Sem ele, não há como voltar atrás. Salvo, se não se quer justamente isso. Mas, se você não quer chegar lá na frente, e descobrir, lá e somente lá, que não estava ali seu coração, trate de não esconder justamente ele, de você mesmo, seu coração.
2. Lido com Teologia por paixão. Aconteceu também agora de viver somente disso. Hoje, sou Coordenador. Mas vivo há uma década de Teologia, de dar aulas. Bel, as crianças e eu comemos disso. Tanto melhor. Mas o fiz, esse tempo todo, com paixão. "Bíblia", isto é, a formação exegética, paixão! Paixão avassaladora. E, quando você ama, tanto você quer fazer direito, sem enganações santas, quanto você arranja tempo para fazer. E faz. E fiz.
3. Não. Não tinha a "boa vida" de só estudar. Trabalhei durante todos os meus cursos, e o de Graduação foi um deles. Chegava ao Seminário cansado. Mas, sobretudo, com paixão. Pobre, morava em Belford Roxo, e estudava em Nova Iguaçu, no campus do Seminário - formei-me lá, a "minha" Galiléia... Durante os cinco anos - sim, eram cinco anos! -, comprei quatro livros apenas. Que dor de consciência: comprá-los, era privar Bel e Israel de alguma coisa, a tentação de livros valerem mais do que pessoas...
4. Durante um bom tempo, quase um ano ou um pouco mais de um ano, fui à pé, de Nova Iguaçu a Belford Roxo. Uma hora caminhando. Era para economizar, porque as coisas estavam "pretas". Ninguém sabia. Um dia, Adolfo viu. Era para eu ir para a esquerda - lá estavam os ônibus. Mas ele me viu virar para a direita. Perguntou, desconfiado. Não menti. Estava há algumas semanas indo à pé. Ele não tinha dinheiro para duas passagens. Tinha para uma só. Então, passou a ir à pé comigo. Algumas vezes, além de ir à pé, me dava o dinheiro da passagem. É para ajudar, Osvaldo. Também ele o fazia por paixão...
5. Não me arrependo. Não amaldiçoei nenhum daqueles dias, nem durante, nem depois. Paixão. Faria de novo. Como andava quase meia hora para ver Bel, quando namorávamos. Queria correr, isso sim. Paixão. Você paga o preço, e nem sente. Iria a pé, de novo, os cinco anos. Bem, não tinha os 45 de hoje, é verdade...
6. Não posso ensinar alunos a terem paixão. Não gosto de ensinar a alunos que não têm paixão. Ponha um estudante com paixão em sala. Professor torna-se até dispensável. Sem paixão, nem Jesus daria jeito. Paixão. Melhor do que opção. Paixão.
7. Onde está seu coração - de verdade? Na Teologia? Na Educação? Na Música? Na Bíblia? Nas pessoas? Meu coração não está nas pessoas. Confesso: não "amo" suficiente para ser pastor. Por isso, não o sou. Sim, sei que nem todos os pastores atuais amam suficientemente as pessoas para serem pastores, mas que o são. Alguns, sim, amam suficientemente pessoas. Não, certamente, a maioria. Eu não amo suficiente, para ser um pastor. Saberia ser. Aprendi a fazer a coisa pastoral. Sou teólogo! Mas falta-me o coração estar nas pessoas. Aluno eu mando se catar. Ovelha, não. Meu coração está - pecado meu! - na Bíblia, na pesquisa bíblica, cuja devoção me é enterrar-me entre as pedras do passado. Essa é minha mística. Esse, meu culto. Ali está meu coração. Na Teologia acadêmica. E o seu? Nas pessoas? Que bom! O importante é descobrir onde está seu coração, e, então, dedicar-se até a próstata ou o útero a esse "lugar" onde seu coração está. O resto é resto.
8. Ah, e no final, não precisa justificar seu coração fazendo do lugar onde ele está o lugar de Deus. Não precisa. Basta que você seja extraordinariamente feliz e apaixonado, e deixe Deus ver a sua alegria boba, criançona, sua felicidade simples de gente apaixonada. Ali ele porá o coração dele. Inverta o lógica. É mais humano. Filho, o que quer fazer? Isso, Pai. Ótimo. Pois faça. Vou contigo...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenação Geral Acadêmica
2. Lido com Teologia por paixão. Aconteceu também agora de viver somente disso. Hoje, sou Coordenador. Mas vivo há uma década de Teologia, de dar aulas. Bel, as crianças e eu comemos disso. Tanto melhor. Mas o fiz, esse tempo todo, com paixão. "Bíblia", isto é, a formação exegética, paixão! Paixão avassaladora. E, quando você ama, tanto você quer fazer direito, sem enganações santas, quanto você arranja tempo para fazer. E faz. E fiz.
3. Não. Não tinha a "boa vida" de só estudar. Trabalhei durante todos os meus cursos, e o de Graduação foi um deles. Chegava ao Seminário cansado. Mas, sobretudo, com paixão. Pobre, morava em Belford Roxo, e estudava em Nova Iguaçu, no campus do Seminário - formei-me lá, a "minha" Galiléia... Durante os cinco anos - sim, eram cinco anos! -, comprei quatro livros apenas. Que dor de consciência: comprá-los, era privar Bel e Israel de alguma coisa, a tentação de livros valerem mais do que pessoas...
4. Durante um bom tempo, quase um ano ou um pouco mais de um ano, fui à pé, de Nova Iguaçu a Belford Roxo. Uma hora caminhando. Era para economizar, porque as coisas estavam "pretas". Ninguém sabia. Um dia, Adolfo viu. Era para eu ir para a esquerda - lá estavam os ônibus. Mas ele me viu virar para a direita. Perguntou, desconfiado. Não menti. Estava há algumas semanas indo à pé. Ele não tinha dinheiro para duas passagens. Tinha para uma só. Então, passou a ir à pé comigo. Algumas vezes, além de ir à pé, me dava o dinheiro da passagem. É para ajudar, Osvaldo. Também ele o fazia por paixão...
5. Não me arrependo. Não amaldiçoei nenhum daqueles dias, nem durante, nem depois. Paixão. Faria de novo. Como andava quase meia hora para ver Bel, quando namorávamos. Queria correr, isso sim. Paixão. Você paga o preço, e nem sente. Iria a pé, de novo, os cinco anos. Bem, não tinha os 45 de hoje, é verdade...
6. Não posso ensinar alunos a terem paixão. Não gosto de ensinar a alunos que não têm paixão. Ponha um estudante com paixão em sala. Professor torna-se até dispensável. Sem paixão, nem Jesus daria jeito. Paixão. Melhor do que opção. Paixão.
7. Onde está seu coração - de verdade? Na Teologia? Na Educação? Na Música? Na Bíblia? Nas pessoas? Meu coração não está nas pessoas. Confesso: não "amo" suficiente para ser pastor. Por isso, não o sou. Sim, sei que nem todos os pastores atuais amam suficientemente as pessoas para serem pastores, mas que o são. Alguns, sim, amam suficientemente pessoas. Não, certamente, a maioria. Eu não amo suficiente, para ser um pastor. Saberia ser. Aprendi a fazer a coisa pastoral. Sou teólogo! Mas falta-me o coração estar nas pessoas. Aluno eu mando se catar. Ovelha, não. Meu coração está - pecado meu! - na Bíblia, na pesquisa bíblica, cuja devoção me é enterrar-me entre as pedras do passado. Essa é minha mística. Esse, meu culto. Ali está meu coração. Na Teologia acadêmica. E o seu? Nas pessoas? Que bom! O importante é descobrir onde está seu coração, e, então, dedicar-se até a próstata ou o útero a esse "lugar" onde seu coração está. O resto é resto.
8. Ah, e no final, não precisa justificar seu coração fazendo do lugar onde ele está o lugar de Deus. Não precisa. Basta que você seja extraordinariamente feliz e apaixonado, e deixe Deus ver a sua alegria boba, criançona, sua felicidade simples de gente apaixonada. Ali ele porá o coração dele. Inverta o lógica. É mais humano. Filho, o que quer fazer? Isso, Pai. Ótimo. Pois faça. Vou contigo...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Coordenação Geral Acadêmica
Eu sei onde está minha paixão, meu coração. Por isto hoje nos cultos chorei. Chorei por meus alunos, por colegas, por amigos, por pessoas sonolentas que "estudam", amam, dirigem igrejas, criam filhos - vivem à meia-boca. Segundo os dicionários quer dizer: Média qualidade. Uma coisa não muito ruim, mas também que não merece ser chamada de boa. Mais ou menos.
ResponderExcluirHoje meus alunos estavam mais felizes, falantes, participantes. Ainda bem...
Sem paixão, sem brilho nos olhos não dá.
Melhor ficar enfiado debaixo do edredon, vendo uma TV hipnotizante e esperando a morte. Pedindo a morte.
Sinto náuseas - pra não dizer outra coisa - de ter que viver e me relacionar com pessoas assim. Reclamem, briguem, lutem, mas não passem por esta vida, pelas pessoas como zumbis.
Ah, eu amo pessoas, tenho paixão por elas e isso me consoooome!
ResponderExcluirLindo demais esse texto.
Lindo, mesmo, esse texto. Lembro-me de uma frase de Fernando Pessoa, quando disse: "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." E me pergunto: Será que tem gente que passa pela vida sem experimentar a paixão? Sem experimentar esse negócio que nos tira o sono, mas nos dá ânimo dobrado para viver?
ResponderExcluirEu estou descobrindo minha paixao, e por agora sei mais o quê não é minha paixão: em relação às pessoas, não tenho paciência... lidar com pessoas é muito chato! Isso é problema quando mandaram vc no seminario para se formar "missionária"...
ResponderExcluirTereza eu já vi gente assim. É impressionante.
ResponderExcluirObrigada por lembrar este texto de F.Pessoa.
Obrigado, Prof Osvaldo. Saudades das suas aulas... Estarei refletindo sobre "onde está meu coração"...
ResponderExcluirQuerido Osvaldo,
ResponderExcluirAgradeço por compartilhar uma parte tão especial de sua jornada de vida. Sua experiência nos encoraja ainda mais a continuar, mesmo que as coisas não estejam do jeito que gostaríamos.
Agorinha mesmo estava refletindo sobre uma frase que alguém me mandou por e-mail (e já está no Twitter!): "Podemos trabalhar juntos para criar um mundo no qual a visão do que pode ser se torne uma realidade".
O nome disso é resistência. E, como se pode aprender aqui, resistência é o segredo da alegria — por que não, da Paixão?
Um abraço.
Lendo este texto, lembrei-me de minha entrada no Seminário, ano de 2006. Minha esposa tinha acabado de perder uma gravidez de três meses. Ela passou por duas curetagens. No primeiro dia, uma cirurgia de cinco horas. No segundo, seis. Teve grave hemorragia, desde então, até final de 2008. Logo após, teve uma gravidez de alto risco. Quase a perdi. A vida ficou uma loucura. Quase perdi também o privilégio de conhecer tanta gente solidária e especial. Mas conheci. Terminei o curso. Consegui. E minha filhinha completa um ano dia 15 de Junho. Agora, só agradeço a PAIXÃO que me incendiaram.
ResponderExcluirSaudações,Osvaldo, da Igreja Batista no Complexo da PAIXÃO, ou melhor do Alemão.
A Bel não deixou vc vir aki, mas ainda te esperamos (rs,rs).
E o Adolfo foi a pé contigo...
ResponderExcluirIsso é emocionante! Impressionante numa sociedade tão individualista.
Ele foi a pé contigo! Isso é ser amigo. É ter paixão. Quero amigos assim. Que "andem a pé comigo" quando eu necessitar...
Muito bom, Osvaldo, muito bom... Inspirador...
Um abraço!
Robson guerra